quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Gerontopsicomotricidade

"Nos olhos dos jovens há claridade, nos dos velhos luz" Jouvert




A Psicomotricidade é uma ciência que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade. Ao basear-se numa visão holística do ser humano, encara de forma integrada as funções cognitivas, sócio-emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial. A intervenção em Psicomotricidade actua em todas as fases da vida (do nascimento à velhice) como forma de prevenção/estimulação ou como reabilitação da função inadequada, através de uma mediação corporal e expressiva. Assim, através do movimento e da sua regulação tónico-emocional, permite que o indivíduo reencontre o prazer sensório-motor e possibilita o desenvolvimento dos processos simbólicos.


Pela abordagem sistémica e holística do ser humano que defende, a Psicomotricidade tem-se tornado uma resposta cada vez mais indispensável em situações onde a adaptação está comprometida e onde é indispensável uma compreensão interligada do funcionamento do sujeito nos seus vários domínios comportamentais, desde o motor, passando pelo afectivo, até ao cognitivo.


Na população idosa, em crescimento exponencial no nosso país, verifica-se um declínio psicomotor, com perdas significativas no equilíbrio, na coordenação motora e nos processos cognitivos. O corpo, fragilizado e tido como fonte de dor, é desvalorizado e desinvestido e a imagem corporal encontra-se em constante transformação. A Gerontopsicomotricidade tem, assim, um papel fundamental na redescoberta deste novo corpo e do seu movimento, na recuperação da autonomia, desejo e motivação.


Um programa de estimulação e reabilitação em Gerontopsicomotricidade pretende desenvolver tanto a actividade perceptivo-motora do idoso como a actividade relacional, tendo como objectivos específicos retardar os processos de deterioração psicobiológica associados ao envelhecimento e que impedem a manutenção da independência funcional do idoso e, consequentemente, a sua inserção na comunidade. As metodologias desta área tentam neutralizar ou minimizar:


 Os processos de retrogénese motora;
 A diminuição dos hábitos motores;
 O declínio das habilidades cognitivas;
 A perda de capacidades sensoriais e perceptivas;
 Os problemas emocionais e afectivos.

A intervenção pode, ainda, situar-se em três níveis, nomeadamente:
Primária – Intervenção junto de idosos saudáveis, tem como principal objectivo evitar possíveis patologias resultantes de défices no processo de envelhecimento (ex: ocorrência de quedas por dificuldades no equilíbrio dinâmico), actuando-se numa dimensão integral biopsicossociológica.
Secundária – Intervenção com características reabilitativas, junto de idosos com ligeiros défices cognitivos ou défices na capacidade funcional. Pretende-se manter um bom funcionamento da pessoa, mantendo as capacidades preservadas e estimulando as que estão em fase de deterioração.
Terciária – Ocorre quando a pessoa já tem um diagnóstico estabelecido e são evidentes os défices ao nível cognitivo e funcional. Os principais objectivos são desenvolver estratégias para superar as dificuldades, de forma a retardar os efeitos da deterioração associada à patologia, promover a autonomia na realização de actividades, mantendo a capacidade funcional e melhorando a qualidade de vida.

Este tipo de programas, ao estimularem os factores psicomotores (Tonicidade, Equilibração, Lateralização, Noção do Corpo, Estruturação Espácio-Temporal, Práxia Global e Práxia Fina), juntamente com aspectos cognitivos (memória, atenção, linguagem…) e sócio-emocionais (auto-estima, auto-eficácia…) contribuem fortemente para o desempenho das AVDs (Actividades da Vida Diária) e das AIVDs (Actividades Instrumentais da Vida Diária), promovendo uma melhor Qualidade de Vida.




Bibliografia:

- Pereira, B. (2004). Gerontopsicomotricidade: envelhecer melhor - da quantidade à qualidade. A Psicomotricidade, 4, 88-93.
- Morais, A. (2007). Psicomotricidade e Promoção da Qualidade de Vida em Idosos com Doença de Alzheimer. A Psicomotricidade, 10, 25-33.
- Nuñes, J. & Gonzáles., (2001). Programa de Gerontopsicomotricidad en Ancianos Institucionalizados. In Fonseca, V.; Martins, R. (Eds). Progressos em Psicomotricidade. Lisboa: Edições FMH.
- Fonseca, V. (2001). Gerontopsicomotricidade: Uma Abordagem ao Conceito da Retrogénese Psicomotora. In Fonseca, V.; Martins, R. (Eds). Progressos em Psicomotricidade. Lisboa: Edições FMH.

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