terça-feira, 25 de junho de 2013

Programa Son-Rise

            Apesar de se considerar que o autismo nunca desaparece completamente, intervenções apropriadas, iniciadas precocemente e com intensidade elevada podem fazer com que alguns indivíduos melhorem de tal forma que os traços autísticos tornam-se impercetíveis para aqueles que não conheceram as suas trajetórias de desenvolvimento.

          Dentre os fatores mais importantes para o prognóstico do funcionamento social geral e desempenho escolar destacam-se o nível cognitivo da criança e o grau de desenvolvimento de habilidades adaptativas, como as de autocuidado.

          Atualmente, existe uma gama muito vasta e diversificada de modelos de intervenção e terapias direcionadas para pessoas autistas. De seguida, abordaremos o Programa Son-Rise, um programa criado por pais e que, muito recentemente, começou a ser aplicado em Portugal.


UM POUCO DE HISTÓRIA


           No início da década de 1970, nos EUA, foi diagnosticado autismo severo a Raun Kaufman, com 4 anos de idade. Após os especialistas afirmarem que Raun não teria recuperação e proporem a sua institucionalização, os pais Barry e Samahria iniciaram, eles próprios, um longo caminho de pesquisa na tentativa de encontrar uma maneira de se aproximarem e comunicarem com o seu filho.

Através da experimentação intuitiva e amorosa e da crença na capacidade ilimitada do ser humano para a cura e crescimento, o casal Kaufman desenvolveu o programa Son-Rise. Três anos após terem iniciado o programa com Raun, a nova avaliação determinou que a criança estava dentro dos parâmetros adequados para a sua idade. Presentemente, Raun é um adulto sem vestígios de qualquer perturbação do espectro do autismo e um orador enérgico e comunicativo, sendo ele próprio professor e formador dos Programas Son-Rise.

           Desde a "recuperação" de Raun, milhares de crianças e adultos utilizando o Programa Son-Rise têm-se desenvolvido muito além das expectativas convencionais, algumas delas apresentado completa "recuperação".
 
 
 
COMO O PROGRAMA SON-RISE CHEGOU A PORTUGAL
 
             Milhares de pais, terapeutas e médicos de cerca de 66 países já frequentaram os programas nos Estados Unidos. Susana Silva, atualmente presidente da Associação Vencer Autismo, foi uma das pessoas que participou neste programa.

             A filha de Susana, com dois anos de idade, foi sinalizada por se perceber que alguma coisa não estava bem, embora ainda sem diagnóstico definido. Susana iniciou o percurso que a maioria dos pais de crianças com perturbações do desenvolvimento segue: médicos, terapeutas, exames, mais médicos, mais terapias…e foram poucos os resultados que obteve.

            Foi então que, em 2009, ouviu falar do Programa Son-Rise e, na sua pesquisa, visualizou vários vídeos disponíveis online e começou a aplicar as técnicas ensinadas com a filha. Refere que os resultados foram imediatos, o que a levou a se deslocar até aos EUA, onde fez a formação de cinco dias. A evolução que viu acontecer na sua filha ao longo dos seis meses seguintes foi tão significativa que decidiu que queria partilhar o programa com as outras pessoas que se debatiam com os mesmos desafios e, assim, nasceu a Associação Vencer Autismo, que tem por objetivo divulgar e promover o acesso ao Programa Son-Rise.
 
 
O PROGRAMA SON-RISE
             O Son-Rise é um programa para o tratamento de crianças com autismo ou com outras dificuldades de desenvolvimento similares, que utiliza uma abordagem relacional e que valoriza a relação interpessoal. O programa não é simplesmente um conjunto de técnicas e estratégias a serem utilizadas com uma criança, mas um estilo de se interagir, uma maneira de se relacionar que inspira a participação espontânea em relacionamentos sociais. A ideia é que os pais aprendam a interagir de forma prazerosa, divertida e entusiasmada com a criança, encorajando então altos níveis de desenvolvimento social, emocional e cognitivo.
             A prática do Programa Son-Rise tem mostrado que uma criança com autismo que participa neste tipo de experiência interativa, torna-se aberta, recetiva e motivada para aprender novas habilidades e informações. São vários os casos em que crianças, ao participarem neste programa, fizeram progressos notáveis, algumas delas recuperaram completamente e “abandonaram” os diagnósticos clínicos.
É necessário entrar no mundo da criança, captar a atenção, conquistar a confiança e criar uma relação, para então trazer a criança para o nosso mundo.

           O programa, que pressupõe como fator chave para o tratamento e recuperação do autismo a participação da criança em interações dinâmicas, envolventes e estimulantes, propõe a implementação dos vários princípios pelos pais no domicílio da criança. Os pais são, assim, estimulados a construírem um ambiente social otimizado que estimule uma profunda ligação emocional com a sua criança.

         Há décadas que especialistas em desenvolvimento infantil têm apontado que as crianças aprendem melhor através de experiências interativas e emocionalmente prazerosas com outras pessoas. Assim, nestas interações a criança torna-se participante ativo e não um mero recipiente passivo de informação. Pesquisas mais recentes têm mostrado que o mesmo é válido para crianças com perturbações do desenvolvimento, inclusive do autismo. É desta forma que se começa a compreender os princípios que o Programa Son-Rise pratica há mais de 30 anos.
 
Ao brincar com a criança com autismo de uma maneira em que a criança participe mentalmente, emocionalmente e fisicamente, estará a ser solidificado um novo crescimento mental.
 
The Autism Treatment Center of America
Fundado em 1983 pelos pais de Raun, The Autism Treatment Center of America™ é uma organização sem fins lucrativos, em Sheffield, Massachusetts, trabalha com famílias de todo o mundo que possuem crianças com Perturbações do Espetro do Autismo, treinando-as no Programa Son-Rise.


OS PRÍNCIPIOS DO PROGRAMA SON-RISE
 
De seguida, apresentam-se os princípios que fazem do Programa Son-Rise um método único e efetivo no tratamento do autismo:
v    O potencial da criança é ilimitado.
Não se acredita na “falsa” esperança, assim como também não se pode prever o que cada criança vai alcançar. Contudo, não se aceita de forma alguma que seja dito aquilo que uma criança não vai alcançar. Nenhum pai deve ter de pedir desculpas por acreditar na sua criança.
 
v    O Autismo não é uma perturbação comportamental
É considerado como uma perturbação relacional e interativa. Na sua essência é um desafio neurológico em que as crianças têm dificuldades de relacionamento e de conexão com as pessoas à sua volta. Assim, este programa foca intensamente a socialização. Mais do que os pais se divertirem com os seus filhos, é importante que a criança se divirta com os seus pais.
 
v    Motivação, e a não repetição, são a chave de toda a aprendizagem
Muitas das abordagens tradicionais são “contra o cérebro”, ou seja, tentam formatar as crianças ensinando-as através da repetição infinita. Pelo contrário, este programa procura as motivações específicas de cada criança e usa-as para lhes ensinar competências que precisam de adquirir. Desta forma, não só se obtém a participação voluntária da criança, como também um período de atenção mais longo e um aumento das suas competências.
                                A Motivação é a chave de toda a aprendizagem…
                   Se queremos que a criança aprenda as cores e as cores não lhe interessam nada, temos de procurar a sua motivação. De que é que gosta? Gosta de números, gosta de dinossauros? Usamos pois os números ou os dinossauros para ensinar as cores.
v    Os comportamentos repetitivos (stims) da sua criança têm uma enorme importância e valor.
O programa apresenta um profundo respeito e aceitação das crianças, o que permite ultrapassar a barreira que separa o seu mundo, fazendo algo ousado e pouco habitual. Em vez de parar os comportamentos ritualistas e repetitivos da criança, o adulto junta-se a ela nesses mesmos comportamentos. Ao fazer isto criam-se afinidades e ligações, a plataforma de toda a educação e desenvolvimento futuro. Ao participar com a criança nestes comportamentos, promove-se o contacto ocular, o desenvolvimento social e a inclusão de outros nas brincadeiras.
 
O facilitador vê o autista como um ser único a ser respeitado e procura fazer com que a criança se sinta segura.
v    A criança pode evoluir no ambiente adequado
A maioria das crianças do Espectro do Autismo está sobre-estimulada por uma quantidade de distrações que a maior parte das pessoas nem repara. É importante criar um ambiente livre de distrações e onde as interações sejam facilitadas – o quarto de brincar. Este ambiente fará diminuir as situações de “conflito” e tensão que inibem o progresso e a interação adequada, possibilitando não só o desenvolvimento, como também uma interação mais próxima, que os pais tanto anseiam.
O programa Son-Rise é totalmente lúdico. Com ênfase na diversão, os facilitadores e os pais seguem o interesse da criança e oferecem atividades motivadoras, para que a criança participe voluntariamente.
v    Os pais e profissionais são mais efetivos quando se sentem confortáveis e otimistas acerca das capacidades da criança e do seu futuro
Frequentemente, os pais são confrontados com diagnósticos assustadores e pessimistas relativamente à sua criança. O programa ajuda os pais a focarem-se na atitude e a recuperar o otimismo e a esperança. É importante verem o potencial da criança e conseguirem definir objetivos. Também aos profissionais é dado apoio e orientação no sentido de ajudarem a criança com quem estão a trabalhar.
 
v    O Programa Son-Rise pode ser combinado com outras terapias
As intervenções biomédicas, as terapias sensoriais, as dietas sem glúten e sem caseína, as terapias de integração auditiva, são algumas terapias que, utilizando princípios que não são contrários aos do Son-Rise, potenciam a intervenção, que se torna mais eficaz do que quando o Programa Son-Rise é aplicado isoladamente. No entanto, as abordagens que utilizam princípios diferentes daqueles que o Son-Rise defende, têm mostrado ser contra producentes, pois confundem a criança.
 
 
O QUE TORNA O PROGRAMA SON-RISE TÃO DIFERENTE E EFICAZ?
 
·         Foi o primeiro programa a tratar as PEA como desafios relacionais e neurológicos em vez de comportamentais.
·         Este programa coloca os pais, não os médicos e terapeutas, como os professores chave.
·         O enfoque é na casa como o ambiente mais estável e encorajador para ajudar a criança.
 
·         Utiliza um modelo de desenvolvimento para orientar os pais passo-a-passo, permitindo que os seus filhos melhorem em todas as áreas de aprendizagem, comunicação social, desenvolvimento e aquisição de habilidades.
Ajuda a trazer o riso, brincadeiras e alegria para a vida de uma criança!

 
TÉCNICAS DO PROGRAMA SON-RISE
 
Existem várias técnicas, baseadas nos princípios do Programa Son-Rise, apresentando-se seguidamente as três principais:
 
1. Criar um ambiente livre de distrações
 
 
- Levar a criança para o quarto/sala mais calma e silenciosa
- Preparar este espaço para que não haja interrupções (telefone, campainha…)
- Levar uma pequena caixa de brinquedos ou atividades
- Aumentar progressivamente o tempo em que se está a desenvolver atividades de 1:1 com a criança
 


2.  Usar os comportamentos repetitivos da criança para construir uma ligação
- Fazer o mesmo que a criança está a fazer, exatamente da mesma forma
- Concentrar-se em se divertir, à medida que se faz o que a criança está a fazer
Exemplos:
-Se a criança estiver a pular numa bola, pule numa bola também.
-Se a criança estiver a correr de um lado para o outro, corra de um lado para o outro também.
- Se a criança estiver a recitar uma cena de um filme ou livro, recite a mesma cena com ela.
- Se a criança estiver a olhar fixamente para a parede, olhe para a parede com ela.

3.  Concentrar-se no contacto visual.
 
- Celebrar com a criança cada vez que ela olhar para si (ex: “Uauu, eu adoro quando olhas para mim!!” ou “O teu olhar é lindo!” ou “Obrigado por olhares para mim!”). Não importa o que se diz, mas que se sinta entusiasmado e agradecido pelo facto da criança ter escolhido olhar diretamente para os seus olhos.
- Trazer a atenção para a sua face e olhos (torne o rosto interessante, usando chapéus, óculos divertidos, adesivos e pinturas…)
- Posicionar-se em frente à criança, ao nível dos olhos ou abaixo, tornando mais fácil para ela olhar para si. Quando oferecer brinquedos, alimentos ou algo para beber posicione-os na altura dos seus olhos.
 
      Quanto mais a criança olhar mais ela aprenderá. Quanto mais você se concentrar no contacto visual com a sua criança, mais esse contacto aumentará, dando a oportunidade da criança aprender consigo.
 


 
Saiba mais em...

-Son-Rise: The Miracle Continues, de Barry Neil Kaufman

-Happiness is a Choice, de Barry Neil Kaufman